Introdução e História

Na Grécia antiga, as aulas aconteciam sob a sombra de uma árvore frondosa chamada Plátano, daí a origem ao nome plateia. Era um aprendizado eficiente, pois os alunos aprendiam dramatizando e aplicando o que imaginavam. Veio a evolução e surgiu a sala de aula com alunos sentados, o corpo imobilizado por uma cadeira, escutando explicações de um professor frente a um quadro negro. Centenas de anos depois, o cenário continuou praticamente o mesmo e apenas se acrescentou recursos para o professor projetar slides e filmes.

No filme “A Sociedade dos Poetas Mortos” o novo professor de inglês, Keating, interfere drasticamente nesse cenário. Os alunos são levados para uma liberdade de expressão, tanto das ideias como do corpo, trazendo como consequência um conflito entre seu modelo de ensino e a tradição da escola.

A consequência foi punirem o professor como responsável por uma tragédia. Grandes gênios da humanidade possuem histórias ridículas no início da sua aprendizagem, mas o ridículo estava no método de ensino.

Hoje, a imagem da sala de aula é a de um professor que ensina construindo o conhecimento junto com os alunos e se utilizando de recursos que vão além da aula presencial ou virtual e se estendem por todo intervalo entre os encontros. Dessa forma, os alunos têm espaço para vencer suas dúvidas, sendo estimulados ao processo imaginativo e a ultrapassar algum limite pessoal como o da timidez em perguntar na sala de aula.

O curso “O trabalho com os sonhos e as narrativas na prática junguiana”, acontece em doze encontros ao vivo. O estudante terá acesso ao Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA onde estarão disponíveis conteúdos e atividades complementares. Neste espaço também serão realizadas supervisões e fóruns com o objetivo de proporcionar o aprimoramento da prática da escuta simbólica, tanto da narrativa das situações vividas pelo cliente, como também a utilização dos recursos dos sonhos como instrumento para o sonhador encontrar um sentido que o encaminha para que a vida não seja tão entediante e siga o fluxo do desenvolvimento da consciência que é o Processo de Individuação.

Sonhos e Consciência

Para os junguianos, a verdadeira religião é um meio de se praticar rituais e fazer contato com o todo desconhecido e misterioso. É como no mundo dos sonhos. Não se pode reduzir todo o mistério a conceitos. Lá, no mundo dos sonhos, a consciência será apenas uma porta para permitir o trânsito livre entre dois mundos: o interior e o exterior. Neste mundo dos sonhos, jamais alguém deixará de escutar as súplicas de uma gota d’água trêmula jogando-se para um abismo até desaparecer em sua própria natureza, a fim de demonstrar o quanto o mundo dividido entre o bem e o mal é mera ilusão.

A psicologia junguiana é um modelo de psicoterapia que considera dois centros na psique, o Ego e o Si-mesmo. Enquanto o Ego, o mundo da luz, utiliza-se de uma linguagem que expressa o pensamento com a atenção orientada – um tipo de pensamento que se adapta a realidade. O Si-mesmo, o mistério, um fenômeno que precisa da consciência para se revelar e o faz por meio não lógico e sim analógico.

A linguagem do Si-mesmo, portanto, é metafórica. Para Jung, a metáfora é o símbolo que cura. Uma metáfora transporta informações preciosas do mundo cotidiano para o sagrado. Faz uma transferência de significado por meio de analogias. O mundo da alma é metafórico.

Hillman cita que imagens de fantasias são tanto os materiais crus quanto os produtos acabados da psique, bem como o modo privilegiado de acesso ao conhecimento da alma. Cada sentimento ou observação únicos ocorre como um evento psíquico ao formar primeiro uma imagem de fantasia. A imagem pode ser sonora, uma emoção, táctil e etc. A imagem não é algo que vejo e sim como eu vejo.

Nós não interpretamos os sonhos. Interpretar significa determinar o significado e não é isso que fazemos. A partir do momento em que o sonhador termina de compartilhar o sonho, aqueles que escutam têm apenas a sua própria versão imaginada do sonho para pensar, sentir, intuir e falar. Todo o nosso trabalho se fundamenta na versão imaginada do sonhador, portanto, criamos métodos com o objetivo de conseguir fazer o sonhador encontrar sentido em suas imagens, tomar atitudes e seguir um caminho mais consciente do que precisa fazer nessa relação com o Si-mesmo, ou sua própria natureza.

Ensinamos como o analista treina o sonhador a contar o sonho, habilitar os olhos dele para ver as imagens, o ouvido para ouvi-la e o coração para envolvê-la. Só então pedimos para ele experimentar a imagem e enquanto isso exploramos a imagem metaforicamente, até que se descubra qual deus está precisando participar da vida, ou conseguir que as conexões ocultas se revelem ao sonhador.

Símbolos e Sonhos

O interesse de um povo por uma fábula revela o quanto um conflito comum está sendo compensado. De acordo com Bérgson, um filosofo francês, “o homem é, a cada passo de seu percurso na terra, confrontado com a finitude. E por meio dela, com o tempo e a angustia, leva-o a buscar modos de escapar de seu destino com a fabulação”. Esse é o papel dos nossos sonhos, um mundo onde dispensamos o conceito de verdade.

Um sofrimento vivenciado em sua literalidade é insuportável. A fabulação dessa dor, ou a sua transformação em símbolo, permite que a mente e o corpo se harmonizem para dar um sentido a essa experiência.